Relatório do Presidente
A vista da minha mesa certamente mudou desde o ano passado. Após mais de quatro décadas em Arlington, Virgínia, a Fundação Interamericana mudou seus escritórios para o coração de Washington, D.C., onde apenas uma curta caminhada nos separa de colegas que trabalham em campos conexos.
Este ano também concluímos um novo plano estratégico que afirma a missão da IAF de ajudar as comunidades a prosperar e traça nosso curso para os próximos cinco anos. Fizemos amplas consultas e refletimos sobre os desafios e oportunidades que nossos parceiros enfrentam. A IAF tornou-se a primeira agência federal a participar da pesquisa de percepção dos donatários feita pelo Center for Effective Philanthropy, e 84% de nossos donatários ativos responderam. Seus comentários francos e anônimos lançaram luz sobre várias questões: o impacto do financiamento da IAF em suas comunidades e organizações, a qualidade de nossa relação de trabalho, nosso processo de aprovação de doações e o acompanhamento que proporcionamos enquanto eles trabalham para atingir seus objetivos. O relatório completo encontra-se em nosso site.
Também atualizamos nossa presença online. Nosso site, www.iaf.gov, inclui notícias e artigos relevantes para o nosso trabalho, números anteriores de Desenvolvimento de Base, um mapa interativo de todos os donatários ativos e avaliações ex post baseadas em visitas às organizações cinco anos após a conclusão do financiamento da IAF.
No final do exercício financeiro de 2012, nossa carteira ativa incluía 267 projetos, representando um investimento de US$69,7 milhões da IAF e US$105 milhões de recursos fornecidos pelos donatários. Durante 2012, a IAF concedeu doações no valor de US$16 milhões em 18 países para apoiar o trabalho de 126 parceiros que empenharam recursos de contrapartida no valor de US$23 milhões. A maioria dessas iniciativas visa a melhorar o bem-estar econômico por meio de uma agricultura mais produtiva e empresas comunitárias mais fortes. Outras expandem o acesso a água potável e saneamento ou combatem problemas sociais como o racismo e a violência. As organizações representam alguns dos grupos mais carentes do continente: afrodescendentes, comunidades indígenas, pessoas com deficiência, mulheres e jovens.
Nossos parceiros podem ser pobres, mas não são passivos, e a essência do enfoque da IAF consiste em incentivar a ação comunitária. Quando somos bem-sucedidos, nossos donatários ativos atuam como protagonistas—não participantes—com aspirações e a capacidade de pensar além de um projeto e moldar o futuro. Mas o importante é que eles não trabalham sozinhos. Fazem parte de uma rede de conexões em permanente expansão que se irradia de cada projeto e inclui parcerias com empresas, governo e entidades sem fins lucrativos, às vezes em vastas diásporas.
A melhor parte do meu trabalho é a oportunidade de visitar os lugares em que atuamos: conversar e aprender com alguns desses impressionantes protagonistas.
- No ano passado, Kevin Healy, o mais antigo representante da IAF, me guiou pela Bolívia, apresentando-me a artistas, ativistas, agricultores e empresários, todos dedicados a revigorar sua identidade cultural e mobilizar os ativos comunitários. Em Santa Rosa, após dirigir duas horas por uma estrada de terra desde Rurrenabaque, aprendemos como um grande parque municipal pode proteger ecossistemas frágeis e apoiar um ecoturismo inclusivo e ambientalmente sensível. Subimos até 5.000 metros, acima de Potosí, para nos encontrarmos com um grupo de tecelões indígenas que se juntaram para melhorar suas habilidades e comercializar seus desenhos exclusivos. Em La Paz nos encontramos com líderes comunitários que trabalham com peritos para regular as terras comunais e registrar os títulos de propriedade.
- No Rio de Janeiro, trabalhadoras da construção me mostraram o estádio do Maracanã, um verdadeiro ícone que está sendo reformado para a Copa do Mundo de 2014. No Nordeste, no sertão árido de Pernambuco, testemunhei os esforços de uma comunidade para aproveitar a água escassa, inclusive com a instalação de sistemas de captação e latrinas secas. Em São Paulo, jovens me falaram de seus esforços para promover a conscientização acerca de questões relacionadas ao meio ambiente e justiça social. No Rio e Recife, encontrei um trabalho corajoso e sério para expor e combater o racismo.
Os resultados e o legado da IAF baseiam-se na visão e nos esforços de uma gama diversa de indivíduos que dedicaram sua vida ao trabalho de base. Em setembro, a comunidade do desenvolvimento lamentou a perda de um desses indivíduos, o Dr. Sheldon Annis, nosso amigo e colega que trabalhou na IAF em meados dos anos 1980. Sheldon foi um dos fundadores da revista Desenvolvimento de Base e produziu Direct to the Poor: Grassroots Development in Latin America, livro que se tornou um marco para os profissionais do desenvolvimento. Sua energia criativa e perguntas incisivas enriqueceram nosso trabalho e nossas vidas, e lhe somos muito gratos.
Quero agradecer ao conselho diretor e ao conselho assessor da IAF o apoio e orientação que prestaram durante muitas mudanças. O coração de uma organização é o seu pessoal, e a dedicação e o espírito humanitário de uma equipe excepcional fazem da IAF um lugar muito especial para se trabalhar, onde cada um de nós pode ajudar a construir um mundo melhor no qual as comunidades prosperem.
Robert N. Kaplan